quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

MISSIVA

Depois do triste passamento da Velhinha de Taubaté, Luis Fernando Veríssimo fez nascer a socialite ravissante Dora Avante. Dorinha é cheia de nove-horas, e lhe manda carta com certa periodicidade nenhuma (isso mesmo). Hoje, no entanto, surge uma missiva impagável, no Estadão e n'O Globo

Outra carta da Dorinha
Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela a idade. Ela há anos tem conta no Pitanguy e diz que está se aproximando dos 30, mas pelo outro lado. Diz que está em forma para o carnaval e que só chegando muito perto dá para ver que seu umbigo não é mais o original, e ninguém que esteve tão perto viveu para contar.
Este ano Dorinha sairá de "Crise Terminal do Capitalismo", uma fantasia ainda mais luxuosa do que a "Apogeu e Glória do Capitalismo" que usou há alguns anos, e da qual só aproveitou as miçangas.
Dorinha e seu grupo, as Socialaites Socialistas - Tatiana (Tati) Bitati, Kiki (Ki) Coisa e as outras - sentiram a crise econômica de perto. A loja que abriram em Ipanema, a "Trapinhos", lançou uma linha de camisetas com o Milton Friedman na frente justamente quando ninguém queria mais ouvir falar em neoliberalismo. Ainda tentaram transformar a cara do Friedman na cara do Keynes, mas não deu certo e elas ficaram com 10.000 camisetas encalhadas.
Dorinha foi obrigada a... Mas deixemos que ela mesma nos conte. Como sempre, sua carta chegou escrita com tinta lilás em papel turquesa e com o cheiro inebriante do perfume "Ravage Moi", que é proibido em vários países.
"Caríssimo: beijos preocupadíssimos. Não me lembro de passar por uma crise igual a esta desde que me deportaram da França alegando que eu era uma ameaça à república. Meu marido, na ocasião, Jean-Paul quelque chose, nada pode fazer. Aliás, acho que foi ele que me denunciou. Sim, caríssimo, andei pela Europa e deixei lembranças explosivas, tanto que depois apelidaram Chernobyl de "Dora Avante 2".
O casamento com Jean-Paul - ou era Jean-Claude? - não podia dar certo: meus ciclos sexuais eram regidos pela Lua e os dele pelo cometa de Halley. Não era por nada que eu o chamava de "Le Bleuf". De volta ao Brasil, tentei de tudo, até casar por amor, que é parecido com dinheiro mas acaba mais depressa.
Tive vários 'relacionamentos' (o que protege a moral no Brasil não são os valores cristãos, é o eufemismo) sem fins lucrativos. Foram dias difíceis, mas venci a crise quando voltei à velha fórmula de só suportar homens que me sustentam. Esta crise, no entanto, parece invencível. Afeta até os muito ricos, nada mais é sagrado. Meu marido atual, um bilionário cujo nome me escapa no momento, só não fez haraquiri porque eu gritei: 'No tapete persa não!'. Finalmente, bolei uma maneira de ganhar dinheiro.
Anunciei que iria escrever minha autobiografia, contanto tudo sobre os homens famosos com que eufemismei, e desde então tenho recebido vultosas somas de dinheiro, de várias fontes, para esquecer o projeto. A que ponto chegamos, néspá? Da tua angustiada Dorinha. P.S.: Uma boa notícia: descobri uma nova zona erógena.
Mas só vou revelar onde é depois de patentear.
Bjs."

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